segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SOBRE A PRIMEIRA VEZ QUE SE PERDE ALGUEM QUE AMA


Muitos sons me incomodam. O incessante mau gosto por funk das pessoas mal educadas que nos obrigam partilhar dessa falta de poesia tem me irritado bastante. O nhenc nhenc de uma porta, o celular tocando perdido em algum compartimento da bolsa, a voz de arrastada de má vontade de um burocrata insistindo que a falta de uma copia do documento mais inútil não lhe permitirá a inscrição em algo que poderia mudar de alguma forma um bocadinho da vida. Também me aborrece a sirene da policia que brinca de “faz de conta que você acredita que a gente trabalha” ou a urgência da sirene de ambulância que me causa aquela ínfima e instantânea curiosidade de saber quem está ali e o por que. Sirene de corpo de bombeiros indo em direção ao meu endereço quando eu ainda não estou em casa me deixa na aflição de imaginar que esqueci as torradas no forno hoje de manha.

Mas, hoje conclui que o som que me deixa completamente desconfortável é o badalar do sino de cemitério. Aquela onda sonora alcança terrivelmente um lado do nosso ouvido ecoando no resto do corpo que, exatamente por você estar ali, hoje você é ¼ do que era antes de saber que quem você ama morreu neste dia e o sino que soa anuncia impreterivelmente o inesgotável ciclo natural das formas orgânicas.

Dizem que passa e a gente tende a acreditar nisso. Ao que me parece não passa, mas o cotidiano, com seus funks, buzinas, sirenes urbanas, banalidades na televisão, gritos de comerciantes, choros de nascimentos... fazem você se distrair e pensar um pouco menos naquela que agora volta ser semente pra terra, presença na lembrança e vazio sucessão dos dias.

(Minha tia Maria Ângela, a forma mais próxima de amor maternal na minha experiência de vida, nos deixou ontem. Hoje eu chorei uma morte de mãe que nunca mais se repetirá)

foto: minha mão enquanto dormia, registrada por Welber Santos


sábado, 3 de setembro de 2011

Eu estava comendo café e bebendo pão, olhando da janela,com olhar vagamente feminino, quando de boca cheia, sujando a blusa de farelo de trigo do pão,comecei a repetir meu nome (que é tão meu) As outras Anas Ritas deveriam me pedir desculpas por usarem meu nome.O caso é que quando vc repete muitas vezes uma palavra ela toma outros sentidos.
Formei duas frases. Uma com meu nome mais virgula e interrogação.
Meu nome lido de tras pra frente forma uma ordem ou pedido indelicado. E, na terceira opção meu nome forma um defeito ou falta de virtude.
Vê só que coisa....eu podia me chamar Maria, mas, justa e minusculamente sou ana rita.

1. Ana ri, ta?
2. Atira, ana!
3. A tirana.

Agora que você perdeu tempo com isso, peço perdão, engolindo, desta vez, nao um pão seco com manteiga rançosa, mas um pedaço de Poema das sete Faces do Drummond.

Mundo mundo, vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

É que eu não ando muito bem



Ando engasgando quando, de tanta alma, eu tenho que me conter em ser somente ana rita. Redimir-se diariamente tem sido muito cansativo. Relincho tomando banho.
Palavras ficam mais bonitas quando faladas. As feias que sejam aos gritos para ficarem ainda mais inteiras tomadas como um tiro de canhão no peito. Um parto em reverso e aceleradamente sozinha de madrugada.

Para um sábado de dor


"Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos

para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,

dores de classe, de sangrenta fúria

e plácido rosto. E há. mínimos

bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,

lesões que nenhum governo autoriza,

não obstante doem,

melancolias insubornáveis,

ira, reprovação, desgosto

desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.

Há o pranto no teatro,

no palco? no público? nas poltronas?

há sobretudo o pranto no teatro,

já tarde, já confuso,

ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,

vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,

vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,

e secar ao sol, em poça amarga.

E dentro do pranto minha face trocista,

meu olho que ri e despreza,

minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,

que polui a essência mesma dos diamantes."


(Nosso Tempo Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Caros,

Tentei baixar este video do youtube mas nao consegui nem com reza brava!
Aos interessados em Teatro Lambe Lambe, um trabalho bem bacana de Juliana Notari. A moça tem levado nossa arte para França e, em asilos de senhoras, senhores e respeitaveis publicos, desenvolve seu processo de criação.

Óprocevê:

http://www.youtube.com/watch?v=Hwj3u7YYf_Q

Teatro Lambe-Lambe: a última grande invenção do Teatro de Animação no Mundo.

Álvaro Apocalypse

O Teatro Lambe-lambe é, desde o inicio dos anos noventa do século XX, mais uma forma de se fazer teatro de animação. A performance se dá por meio de repetições de cenas que duram até três minutos e são apresentadas para um espectador. Duas professoras de arte na Bahia, em 1989, por necessidade de apresentar um trabalho, na observação de fotógrafos lambe-lambe que, ainda se via pelas praças da cidade, tiveram a ousadia de configurar seus espectáculos numa caixa fechada e escura.

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